quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tríade


 Fonte da foto: raulsseixas.wordpress.com

Em cada árvore pendurado
O cavanhaque do Raul
Sustentava, num varal,
Minhas pegadas
Quando desfilei minha poesia gauche
Pelas praias de Santos.

Gonzaga, Raul e eu
Poetas paranóicos
Perdidos na praia
Exilados de um Brasil já alugado.
De óculos escuros
Nenhum colírio, só delírios psicodélicos.
Traçando letras lúdicas
Em linhas inúteis e tortas.

* Em homenagem a Rauzito, um dos maiores ídolos de minha geração.


Poeta em Pele de Lobo



Peles de poetas não me servem
Frágeis como a aurora, elas são.
Quero a couraça do guerreiro
Ando vexado, procurando emprego.
Quem sabe, a burra cheia e o bucho,
Possa rabiscar uns versos
Poluídos de chãos de fábricas e fuligens
Destes tempos industriais,
Talvez destas linhas tímidas
Desatem uma segunda revolução
De proletários  inspirados e de macacões.
Peles de cordeiro? Também não
Agrada-me mais a mandíbula de asno
Não obstante a calvície
Que inviabiliza o Sansão em mim
E estes músculos flácidos de pouca fé.
Ando temeroso de guerras contra filisteus
Procurando a paz, mesmo que inglória.
Antes o covarde vivo, que valente e não.
Quiçá esta retirada individual
Permita a paz da coletividade.

Mas a pele de lobo, esta sim, me serve
Disfarça o lobisomem em mim.
Até que a lua cheia o denuncie...

O que há com o homem moderno
Que sua própria pele não basta?