segunda-feira, 21 de maio de 2012

Segredos


Imagem: pt.wikipedia.org


A PÁ LAVRA a terra
Revirando segredos
Em suas entranhas.
Gemas, germes e genes
Revisitados.
Tudo :
 vida,
e morte
são transformações.
Nada se perde se vem à tona.

quarta-feira, 18 de abril de 2012



Imagem: raizesdaespiritualidad...

Terráqueos

São estes os filhos da Terra,
melhor que não fossem!
Cristo, o filho de Deus,
se atinha a ser o filho do homem.
Mas os filhos da Terra são estes,
antes fossem os filhos da outra.

São estes os filhos da Terra
que mancham o colo da mãe
e lhe rasgam entranhas,
os seios lhe maculam
num frenesi incestuoso.

Drenam-lhe o útero e o transforma
em estéreis desertos,
queimam-lhe os pelos florestais,
envenenam-lhe o sangue
de rios, lagos, mares e oceanos.

São estes os canibais filhos da Terra
que devoram aos seus irmãos
os outros filhos da Terra.
Num aborto coletivo cruel
derramam sobre o corpo da mãe
gases tóxicos, súper-vírus, bombas...

São estes os filhos da Terra
melhor que não fossem!

*releitura de poema antigo. 9/4/06 – 12h45’

domingo, 15 de abril de 2012

Primavera



Imagem: focadoemvoce.com

Um casal de quero-queros
em campos floridos
de alvas margaridas (neve tropical)
bem-me-queres!

Quereres é bem mais
do que mais de um querer.

Por que mal-me-quer
se bem te quero?

sábado, 14 de abril de 2012

Xeque Mate



Imagem: lpxsports.blogspot.com

No grande tabuleiro
A que chamamos vida,
Peão,
 muitas vezes...

Mas também sou rei!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Artífice




Imagem: regdias50.blogspot.com

O cinzel do tempo
esculpiu meu rosto
de rugas e cicatrizes
minha alma.
Mas permitiu intacta,
em meu coração
a capacidade de amar.

sábado, 7 de abril de 2012

Paraíso Perdido



Imagem: mundodastribos.com

Pastos planos de planícies plácidas,
platôs e planaltos povoados de plátanos,
poucas pedras, pequenos pedregulhos.
Pássaros pretos, pintassilgos,
patativas e pequenos periquitos
passeiam pulando pelos postes.
Pachorrentos pastores pestanejam
perto das pontes,
prevendo patuscadas próximas e prazerosas,
sem prenunciar possíveis pesadelos.
Pensam em priscas promessas
que potreiam pensamentos passageiros
em plúmbeos poentes.
Percebem-se por perto
profusão de petúnias penduradas em pêndulos.
Potros prateados e pretos
pastam passivos e preguiçosamente.
Nos píncaros e pináculos, palmeiras,
pínus e pinheiros preenchem a paisagem.
Pacientes predadores perscrutam suas presas,
perseguem preás que pinoteiam pelas picadas
e pequenos pássaros, pombos.
Pessegueiros e pitangueiras produzem pomos
polpudos.
Pica-paus passam piando, aos pares,
pelas perobas e pindaíbas
proclamando o princípio de um paraíso
pleno, perfeito e perdido.



terça-feira, 3 de abril de 2012

Iraque


Imagem: passadissimo.blogspot.com

Iraque

Uma bomba...
Um míssil...
Uma rajada de metralhadora!

Meu filho ainda bebê dorme
o gato do vizinho ronrona
e meus olhos ardem...

A fumaça de um cigarro mais
cinzas que caem fora do cinzeiro
e o sono que não vem.

Por que não durmo
se não provoquei esta guerra
não darei sequer um tiro, graças a Deus,
nem fogos de artifício soltarei?

Estou tão longe do Iraque
mas meu coração se agita
misto de comoção e angustia.
Uma guerra a mais, meu Deus!
Meu Deus, irmãos que se matam!

 Por quê?

Uma bomba...
Um míssil...
Uma rajada de metralhadora!

*19/3/03 – 0h10’ (Noite dos primeiros bombardeios americanos no país de Sadam)

domingo, 25 de março de 2012

Insegurança


A violência sem controle
Invade a vida.
Inválidos arames e cercas
Campos de concentração
Em que, contrariado,
Me contraio a contragosto.
Não fossem os mezaninos
Da alma e bastaria
Para obartá-la de minha sala 
E senzala
Um clique do controle remoto,
Confinano-a nua e crua
Na rua.
Longe do cotidiano
Sem cismas ou saudades
Que autorizem a retornar.
Mas nossos defeitos, de má formação genética
Com que saímos de fábrica
Sem Control Alt Dell,
Sequer um remoto recall
Para obstarmo-la...
Absortos, abstraímos
Em abstratas fronteiras.
Em frestas de voyeurs
É que vimos a vida segura.

Imagem: quebarato.com.br

quarta-feira, 14 de março de 2012

Vermes Vorazes


Imagem de: tamithestrange.blogspot.com

Vermes Vorazes

Vermes vorazes, voluptuosos, vingativos;
Vermes vis, vilipendiosos;
Vermes vadios;
Vermes...
Vermes venais;
Vermes vagos, vasqueiros;
Vermes viciosos, viciados, vicejantes!
Vermes volúveis, viperinos;
Vermes vexatórios;
Vermes...

Mas pode chamar de Vossas Excelências!


sexta-feira, 2 de março de 2012

Causa Mortis

Se não morri de inanição antes dos dez;
de tesão antes dos quinze;
de amor, antes dos vinte;
de overdose antes dos trinta;
de trepar antes dos trinta e cinco.
Também não morrerei
de AIDS antes dos quarenta;
de raiva antes dos quarenta e cinco.
Acredito que, de tédio, ainda não morrerei
antes dos cinquenta!

Minha salvação seria o infarto???

* De uma das peles que vesti.


quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Tríade


 Fonte da foto: raulsseixas.wordpress.com

Em cada árvore pendurado
O cavanhaque do Raul
Sustentava, num varal,
Minhas pegadas
Quando desfilei minha poesia gauche
Pelas praias de Santos.

Gonzaga, Raul e eu
Poetas paranóicos
Perdidos na praia
Exilados de um Brasil já alugado.
De óculos escuros
Nenhum colírio, só delírios psicodélicos.
Traçando letras lúdicas
Em linhas inúteis e tortas.

* Em homenagem a Rauzito, um dos maiores ídolos de minha geração.


Poeta em Pele de Lobo



Peles de poetas não me servem
Frágeis como a aurora, elas são.
Quero a couraça do guerreiro
Ando vexado, procurando emprego.
Quem sabe, a burra cheia e o bucho,
Possa rabiscar uns versos
Poluídos de chãos de fábricas e fuligens
Destes tempos industriais,
Talvez destas linhas tímidas
Desatem uma segunda revolução
De proletários  inspirados e de macacões.
Peles de cordeiro? Também não
Agrada-me mais a mandíbula de asno
Não obstante a calvície
Que inviabiliza o Sansão em mim
E estes músculos flácidos de pouca fé.
Ando temeroso de guerras contra filisteus
Procurando a paz, mesmo que inglória.
Antes o covarde vivo, que valente e não.
Quiçá esta retirada individual
Permita a paz da coletividade.

Mas a pele de lobo, esta sim, me serve
Disfarça o lobisomem em mim.
Até que a lua cheia o denuncie...

O que há com o homem moderno
Que sua própria pele não basta?